10 de junho de 2012

Extras [Scott Westerfeld]



No quarto livro da série, A Era da Perfeição ficou no passado. A libertação promovida graças aos esforços de Tally Youngblood deu fim a uma cultura onde a beleza e as modificações cerebrais eram a base do sistema. Nesse novo mundo onde Aya Fuse tenta sobreviver, existe uma coisa muito mais importante e poderosa do que a beleza: a fama.

Ocupando o 451.611º lugar em um ranking que mede a popularidade das pessoas, Aya é só uma Extra nesse complexo sistema social. Mas a descoberta de um grupo de misteriosas meninas que se arriscam a surfar em trens magnéticos pode ser a oportunidade perfeita para alcançar o seu lugar no topo. Uma matéria tão boa que irá despertar o interesse de todo mundo, incluindo alguém há muito desaparecido.


Por não se tratar exatamente de uma continuação dos três volumes anteriores da Série Feios, o leitor pode levar algum tempo para se acostumar com o universo de Extras. Em uma cidade* regida pela “economia de reputação”, é a fama que dita as regras e a colocação no ranking de reputação determina e move a existência da população.
* No início, só percebemos que a tal cidade situa-se no Japão pelos nomes claramente japoneses dos personagens. O fato é confirmado só mais adiante, ao ser mencionado que o japonês é a língua falada pelos protagonistas.

Passadas as estranhezas iniciais e uma vez familiarizados com os novos personagens, é tarefa árdua não se deixar envolver pela narrativa irresistível de Westerfeld. Quem leu os livros anteriores sabe do que estou falando. O autor sempre convence, por mais inimagináveis que sejam os elementos de suas histórias. E o leitor, por sua vez, pode aguardar surpresas no desenrolar da trama, elas são uma constante nos livros da série!

O tema, aliás, foi uma grande sacada do autor. Pessoas com câmeras flutuantes a tiracolo, vidas expostas em canais para quem quiser assistir, a necessidade de registrar absolutamente tudo em imagens e divulgá-las em seguida. A vida, por si só, já não é suficiente, é preciso que seja “testemunhada”. Os acontecimentos só adquirem status de “verdade” a partir do momento em que são divulgados, quando há gente falando sobre. Isso tudo nada mais é do que um retrato – caricato e futurista – do mundo “real-virtual” em que vivemos hoje. Facilmente podemos traçar paralelos e fazer comparações com estes tempos de Facebook, em que é possível conhecer tudo da vida de uma pessoa através das redes sociais – mesmo sem nunca tê-la visto pessoalmente.

Questões derivadas ao tema são abordadas de maneira interessante no livro. Distorção de fatos, bullying virtual, obsoletismo das informações, falta de privacidade (e, ainda, a impossibilidade de realmente optar por uma vida privada), e valores (como lealdade e honestidade) na era virtual. Tecnologia é sinônimo de progresso, certo? Nem sempre. Extras nos mostra uma população que parece retomar padrões e hábitos de seus ancestrais em uma espécie de ciclo contínuo e circular, ainda que esteja inserida em um mundo bem mais avançado. Muitas vezes, o lidar com tais avanços é mais relevante do que a simples disponibilidade deles.

Quando uma pessoa conta a mesma história várias vezes, fica mais fácil continuar acreditando nela.


Apesar de bem retratados e adequados ao contexto, os personagens não possuem a força dos protagonistas dos três volumes anteriores da série. Ainda, alguns elementos da trama são bastante dispensáveis, como a historinha Aya-Frizz, por exemplo. Para os mais nostálgicos, Tally, Shay e companhia aparecem na trama, algo do tipo “participação especial”, mas adianto que não é nada que vá matar as saudades das aventuras encerradas com Especiais.

Recomendo a leitura pelo tema e pela narrativa incansável de Scott Westerfeld. Apesar de não ser imperativo ter lido os volumes anteriores da série, alguns conceitos abordados nos outros livros podem acabar parecendo superficiais em Extras. Logo, é sempre mais interessante ler toda a série - e garanto que não se arrependerão!

Título: Extras
Título original: Extras
Autor(a): Scott Westerfeld
Editora: Galera Record
Edição: 2012
Ano da obra: 2007
Páginas: 416

3 comentários:

  1. A outra série sempre me interessou, só li resenhas boas, o mesmo aconteceu com essa e a tua resenha XD
    Só não entendi porque não é um japonês na capa, se são os protagonistas da história hehehe
    Amei a resenha.
    Beijão

    Bruna Reis
    http://desbravandohistorias.com.br

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  2. Ah tenho que ler esse livro, as resenhas que li sobre essa série são ótimas.

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  3. @BrunaReis Pois é! Já vi uma capa (americana, eu acho) que é uma mulher japonesa na capa e achei bem mais pertinente. Também não entendi o porquê da capa brasileira não ir para esse lado.

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