Considerado o principal trabalho da inglesa Virginia Woolf e um dos mais importantes romances do século XX na Europa, Rumo ao Farol nos mostra a família Ramsay e amigos em sua casa de veraneio nas ilhas Hébridas. Um passeio ao farol torna-se inviável devido ao mau tempo. Enquanto lembranças e sentimentos velados percorrem o íntimo dos personagens, a presença da Sra. Ramsay, radiante e influente entre eles, é fortemente marcada. Como pano de fundo, os traumas da Primeira Guerra Mundial.
Quase tudo ocorre no plano subjetivo. As ações, em si, são poucas se comparadas à infinidade de pensamentos e lembranças que nos são narradas ao longo do livro. Estes, muitas vezes, não são conclusivos, podendo mesmo fazer rodeios até que sejam interrompidos por alguma visão ou acontecimento.
Ideias, pensamentos e lembranças de vários personagens fluem e percorrem caminhos que se ramificam.
Assim, a leitura pode acontecer de forma um pouco mais lenta, e requer mais cuidado e atenção. Mas isto não a torna, de forma alguma, menos agradável – ainda que possa parecer cansativa até nos “acostumarmos” com o ritmo do livro.
Como que “espiando pela fechadura”, somos levados ao interior dos personagens, o que proporciona uma observação muito rica acerca deles. Inclusive, ao longo do livro, temos opiniões e sentimentos contraditórios a respeito dos personagens, já que, como em todo ser humano, a complexidade e a ambiguidade se mostram presentes. E, nesta observação minuciosa que é o livro, nos deparamos com mulheres que, em seu interior, se revelam muito mais fortes que os personagens masculinos. Os homens são bastante vulneráveis, possuem clara necessidade de auto-afirmação, e parecem buscar incessantemente a compreensão e aceitação feminina – tudo isso sob uma capa autoritária e prepotente. Ainda, eles ressaltam abertamente seu intelecto e colocam a figura feminina dentro da perpétua imagem da limitação, talvez sem plena consciência de que são as mulheres – em um ato extremamente doador e consciente – as responsáveis por colocá-los na posição que eles querem estar.
Além do mergulho nas profundidades dos personagens, o livro nos faz perceber a brevidade da vida – a meu ver, um ponto altíssimo da leitura. Um dia pode durar uma eternidade, ao passo que uma década transcorre com uma rapidez assustadora (trazendo muitas mudanças enquanto reforça a imutabilidade de algumas condições, sejam elas da própria vida ou dos personagens).
Rumo ao Farol me ofereceu uma leitura muito rica, responsável por alimentar ainda mais meu desejo de explorar as demais obras de Virginia Woolf. Particularmente, não o vejo como um livro para mera distração. Por outro lado, se você
NÃO está em um daqueles momentos que requerem livros com enredo
“mais leve”, e quer mesmo algo que te faça refletir sobre a vida, Rumo ao Farol pode ser uma ótima escolha.
“Qual o artifício para conseguir formar indissoluvelmente um único ser – como a água despejada numa jarra – com a pessoa que se adorava?”
“(...) sentia aquilo que chamava vida como alguma coisa terrível, hostil, pronta para se lançar sobre quem quer que lhe desse uma oportunidade.”
Título: Rumo ao Farol
Título original: To the Lighthouse
Autor(a): Virginia Woolf
Editora: O Globo
Edição: 2003 (Folha de S.Paulo – Biblioteca Folha)
Ano da obra / Copyright: 1927